quinta-feira, 20 de março de 2008

A Tenebrosa Era da Inocência


O personagem principal de a Era da Inocência (o título original - “A Idade das Trevas” traduz melhor a mensagem do diretor, mas espantaria o público que pensa tratar-se o filme apenas de uma comédia ) chama-se (Jean-Marc) Leblanc – “o branco” e está constantemente fugindo do seu mundo tenebroso por meio de suas fantasias estaparfúdias pontuadas por desejos sexuais e de grandeza reprimidos. Mas “ Le Blanc” tanto pode ser o sujeito “claro” que rejeita um mundo cego pela estupidez e pela hipocrisia quanto alguém com realizações “em branco” e uma vida vazia (embora cheia de ilusões perdidas ou irrealizáveis). Leblanc é o alterego do diretor Denis Arcand em fuga da hipocrisia e mediocridade que cerca o mundo das celebridades, no qual ele mesmo se insere, mas também é o homem comum massacrado e transtornado pela indiferença, impaciência, sarcasmo e impiedade da nova idade (média) das trevas. Leblanc é um funcionário público pago por uma sociedade politicamente correta que se dedica a “ouvir” os cidadãos injustiçados por ela mesma. Mas por ser também uma vítima desta sociedade, Leblanc é complementamente incapaz de resolver qualquer dos problemas a ele levados por pessoas tão semelhantes a si mesmo. Por isso age, tal qual seus próprios carrascos, com cruel ironia diante destes seres socialmente desesperançados. A Era da Inocência pode não seu um filme tão empolgante para a crítica como foram “O Declínio do Império Americano” e “As Invasões Bárbaras” mas soa como um desabafo de Denis Arcand , e não deixa de ser, tal como seus antecessores, uma reflexão tão ácida quanto pertinente da sociedade contemporânea.

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