sábado, 23 de fevereiro de 2008
CANTORA BRASILEIRA NO MELHOR DISCO DE 2007
Possivelmente poucos brasileiros conhecem a cantora brasileira Luciana Souza. Pois ela é uma das ilustres convidadas de Herbie Hancock no álbum de jazz River – The Joni Letters que ganhou no último dia 11 de fevereiro o prêmio Grammy de melhor disco de 2007. Notem que não foi o prêmio de melhor álbum de jazz, mas o de melhor disco do ano, desbancando astros da pop music e do rock. Não é pouco, pois isto é fato raro e surpreendente em um ambiente marcado pela música comercial e de péssima qualidade. De fato, é a segunda vez que o um trabalho jazzístico ganha o Grammy de melhor disco do ano. A outra vez foi em 1965 com o álbum de Stan Getz e João Gilberto Getz/Gilberto. Coincidentemente com a participação de um outro brasileiro que a partir daí transformaria os rumos da música popular no seu país e no mundo.
A Bossa Nova reinventou a MPB, reoxigenou o jazz e lhe deu a beleza melódica de Jobim, Donato, Alf, Lyra, Menescal, Powell, Lobo,Valle, Eça, Blanco, Castro Neves e tantos outros. E, é claro, a voz, o violão e o singular modo de cantar de João Gilberto. Pois agora um disco de um renomado jazzista, que começou sua carreira tocando com Miles Davis, deu belas canjas em discos de Milton Nascimento e é um dos grandes mestres do jazz contemporâneo, leva o mesmo prêmio com um disco talvez tão revolucionário quanto foi Getz/Gilberto. Nele Hancock obtém êxito naquilo que muitos músicos perseguem: unir a sofisticação do jazz com o pop sem abrir mão de uma música de qualidade excelente. Não é algo simples. Na realidade é como juntar água e óleo. Apesar do pop flertar com o jazz desde que este deixou de ser uma música purista para absorver influências de vários gêneros musicais, a alquimia entre jazz e pop nem sempre deu certo, desagradando tanto a jazzistas quanto a consumidores de música pop. Hancock se saiu bem na sua empreitada porque une a sofisticada beleza de seus arranjos executados por excepcionais instrumentistas do quilate de Wayne Shorter, Dave Holland, Vinnie Colaiuta e Lionel Loueke às vozes de cantoras populares no circuito do jazz como Norah Jones, Corine Bailey Rae, a própria Joni Mitchel (homenajeada e autora da maior parte das músicas), Tina Turner (ícone do rock belamente revigorada em uma das mais belas canções do disco) e Luciana Souza, a quem Hancock agradece a “habilidade e precisa navegação” em uma exaltação a sua performance tecnicamente perfeita e emocionalmente viajante na canção “Amélia”.
Mas quem é Luciana Souza afinal ? Nascida em Sao Paulo é formada em Composição Jazzística por Berklee e tem uma carreira sólida nos EUA. Já foi nominada ao Grammy como melhor cantora de jazz por três vezes (2002, 2003 e 2005) e já gravou e se apresentou com vários grandes nomes do Jazz. Apesar disto e de cantar muitíssimo bem tanto em inglês quanto em português e, principalmente, música brasileira, Luciana é muito pouco conhecida no Brasil. Aliás ela até tentou carreira aqui, mas sem sucesso voltou às terras do Tio Sam, onde foi melhor acolhida e hoje é considerada celebridade no meio jazzístico. Como João Gilberto e Jobim, Luciana em sua carreira ascendente também pode tornar-se um dos grandes gênios musicais brasileiros a triunfar no circuito da música jazzística internacional. E aí, quem sabe, a reconheceremos no Brasil. Por enquanto seu desconhecimento por aqui parece ser fruto em parte da desinformação que brasileiros têm sobre a qualidade dos seus artistas mais talentosos no exterior e em parte por um certo desprezo por estes artistas fazerem uma carreira no exterior, o que revela um misto de xenofobia e preconceito.
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