domingo, 20 de janeiro de 2008

À propósito de um comentário de Hermano Viana para o texto Frank Gehry e Niemeyer


Arquitetos e planejadores sempre assumem ares de quase-deuses quando “desenham” a vida dos outros nos espaços que projetam. E quanto mais famosos e incensados são mais a própria sociedade os transforma em quase-deuses. Na verdade há uma conveniência ideológica ou mercadológica no endeusamento de arquitetos e planejadores. De fato, o que revitalizações urbanas em cidades como Bilbao, Barcelona Berlim e Buenos Aires (1) promoveram, além de toda badalação e a atração da atenção da mídia para si, foi o espetacular resultado econômico imobiliário, turístico e comercial dos seus emprendimentos urbanísticos e arquitetônicos. A assinatura de arquitetos do “star system” como Gehry, Koolhaas, Nouvel, Calatrava e outros conferem um retorno altamente lucrativo a estes investimentos urbanos, embora não se possa dizer, separando a obra arquitetônica do seu resultado capitalista, que estas não tenham valor em si. Algumas, de fato, cumprem o papel da arquitetura enquanto arte, que é o de criar a beleza, o inusitado, a emoção estética, o puro deleite. Mas, referenciado em Lefebvre, não posso deixar de admitir que a arquitetura-espetáculo unida ao urbanismo de resultados, produzem uma interação quase perfeita entre consumismo e culturalismo, na qual a cidade-produto (mercadoria – valor de câmbio) encontra o seu melhor resultado na cidade-obra (monumento, arte, espetáculo- valor de uso). Dogmas ou modismos do passado, como o modernismo e o planejamento centralizador são substituídos por novos paradigmas do presente como o planejamento estratégico-participativo e a estética high tech e midiática mas o papel dos arquitetos e planejadores como artistas de reis mecenas (travestidos de grandes investidores urbanos) não mudou no decurso da história.

(1) – Por uma estranha coincidência não planejada o nome de todas estas cidades começam por “B”

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